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30 de ago. de 2009

RETORNELLO



Nunca mais retornemos ao jardim
como rosas ou lírios ou alegres girassóis
nem como ave celebrando no cipreste
o renascimento infinito da plumagem
em forma de uma flor qualquer.

Soldados armados de ventos uivantes
passariam por lá como nuvens explosivas
e arrastariam nossas almas renascidas
para a invernada dos espinhos.

Retornemos ao jardim em forma
de esperanças e sonhos e quimeras
porque os ventos ceifariam apenas
nossas flores...
Mas não saberiam como levar
as nossas primaveras...

Julis Calderón
(Numa lembrança de Che Guevara)

28 de ago. de 2009

POEMETO



sobre o rio da vida
essa ponte de amor
tu na margem de lá
eu à margem de cá
segurando esta flor
desfolhada na mão
do possível morrer
pelo ser ou não ser
como rio entre nós
uma dor de paixão

Afonso Estebanez

DA ESPERA DESESPERADA



Penso em deixar o coração aberto
para quando tu vieres me buscar.
Nada em meu peito ficará deserto
enquanto o coração puder cantar.

Meu pássaro cantor virá por certo
como o vento cantando no pomar
anunciando no sonho já desperto
o dia certo em que tu irás chegar.

Enquanto tu és apenas esperança
eu vivo de saudade da lembrança
de morrer do desígnio de sonhar:

que teu amor é doce destempero
de meu amor de paz e desespero
do que morri de tanto te esperar.

Afonso Estebanez

Eis-me aqui!



Eis-me aqui
na luz dos olhares que se cruzam,
entre a neblina que se desfaz
em meio a tantos ou uma, das palavras,
no silêncio tão breve que se refaz

Volto no limiar exato do inacabado,
deflagrando o desamparo da memória
na construção palpável das palavras
habitando constelações
antes nunca navegadas

Não sou mais que isto:
sonhos inventados,
finalidade e drama sem enredo,
herança sem segredo

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 27/08/09
Código do Texto: T1777257

26 de ago. de 2009

SEM MOTIVO



Eu faço versos
porque o verso
é esse momento
em que o amor
dentro de mim
torna-me vivo,
para que assim
eu morra só do
contentamento
de ser feliz sem
precisar de ter
motivo...


A. Estebanez
(Homenagem a
Cecília Meireles)

NUA DE ILUSÕES



Faz frio,
Chove forte aqui.
A vidraça molhada,
Parece chorar.
Nua de ilusões, sedenta de afeto,
Revejo a trajetória.
Um caminho truncado,
E um passado sem glória.

Um cheiro de terra molhada,
Trazido pelo vento,
Aquece-me a emoção.
Preciso de aconchego.
Fria está a alma,
Triste e cansado, o coração.
Sigo em frente!
Visto-me de coragem.

Nessa sintonia,
Procuro a rima,
Os versos, a canção, a fantasia,
Esquecidos no armário
Dessa vida vazia.

(Genaura Tormin)


Não vês
esse caudal de amor,
sereno firme,
que as margens dos teus sonhos
vem beijar?
Não ouves o murmúrio
de suas ondas...
Buscando-te...
Pra te acariciar?
Percebes que caminha
e não se importa,
se sob escuras pontes...
Ou pleno de luar?
Entendes que é rio,
e o seu anelo,
seu único desejo é o teu mar?
Eu sei, não vês, não queres...
Não te importam
as lágrimas que o fazem transbordar.
Eu sei, já demonstraste,
não desejas,
não te é bastante
o canto deste amar.

- Patricia Neme -

Trilhas




Furtaste o estio,
e as chuvas ficaram na memória
reconhecendo a terra
que caminha sob cursos d’ água

Como se não bastasse percorrer
as idades que me atravessam,
o ocaso da vida se acende
desenhando trilhas interiores,
testemunhando o encalhe da eternidade
transgredida pelo tempo
na solidão insólita


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 24/08/09
Código do Texto: T1772777

24 de ago. de 2009

QUE PENA



Lua matreira,
Namoradeira
Lançando sombras,
Rendilhando o chão.
Por companhia,
Pássaros cantores,
Notívagos companheiros,
Na calada da noite.

Vestido de solidão,
Bem longe da fantasia,
Está o coração,
Que palpita em agonia.
Que pena!
Foi-se a alegria.
A noite está fria!
A vida vazia!

(Genaura Tormin)

Aprendizado



Não aprendi a ir embora
ficando assim pelos campos
e ares das montanhas
onde o tempo foi tatuado
sobre ladrilhos a ferro e fogo

Poderia o amor
nos ritos da inutilidade,
varrer as essências
de um abraço desgarrado
como quem busca no alforje
o exercício da entrega

Os dias que passam
no espelho sem narcisos,
mostram a face de um verão
apaziguado pelo sol
que brilha no silêncio
e perdura na eternidade!


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 21/08/09
Código do Texto: T1766541

Devaneios da uma da manhã...



Vês?
Não há poesia.
Somente a vida,
em preto e branco,
crua e nua.
Vês?
Foi-se o infinito...
As nuvens densas
toldam
as sendas da lua.
Ouves?
Vem do silêncio
esse cantar
tão sufocado.
E esse compasso?
É o coração
do violeiro
apaixonado.
Ouves?
O fogo baila,
rasga o tempo,
traz lembranças.
E as mãos sedentas
de um afago
prendem cordas...
Onde a viola guarda
os restos de esperança.

Patrícia Neme

AMORES... AMORES...


(Emile Vernon, British painter,1872-1919)

Gosto de meus amores próximos
assim: com a face descortinada para o vento
e as janelas do olhar reabrindo para mim
a cortina fechada do meu pensamento.

Amores evidentes como rosas no jardim
que em mim deixem perfumes de contentamento
que invadam minhas portas abertas para dentro
e me resgatem dessa torre de marfim.

Amores são pressentimentos
dos faróis da alma em transitividade não profana
na eternidade sob as ondas dos lençóis.

E quase nada mais meu infinito amor reclama
senão que todos os amores sejam para nós
a eternidade efêmera para quem ama...


Afonso Estebanez

Poema cor de mar




Quero ter motivos
para sentir saudades
barulhenta do verde
que os teus olhos guardam,
do encanto tecido sem tramas,
alinhavado pelo tempo

O teu silêncio circunstancial
me assegura que,
és a minha última fantasia
como âncoras sem liames

São ritos antigos que desato
histórias vividas e não contadas
urgindo amar a vida e mais nada

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 18/08/09
Código do Texto: T1760330

Porto seguro


(Charles Chaplin-French Academic Painter, 1825-1891)


Embarco em teus olhos marejados
onde navega meu destino
de solitária beleza
e prazer inconfundível

Por teres me guardado
entre teus agrados,
escuto a saudade calada
nos toques e afagos dos sentidos

Caminhas displicente, em silêncio
com o olhar flutuando vagamente
acolhendo-me em teu colo,
calando a música que se ouve
nas imagens que encantam
o olhar, o coração e a mente


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 14/08/09
Código do Texto: T1753228

15 de ago. de 2009

CAMPO DE MEDITAÇÃO



As estradas que sempre iam,
continuam indo, a despeito de mim
que por hora estou voltando...

Mas quando não houver
mais estradas para quem vai,
suave será a carona dos riachos
que são estradas feitas de lágrimas
de saudade dos amores viajados.

Continuarão, como os dias e as noites,
na direção do reino do nunca mais...
E como as rosas num leito de orvalho,
é possível que eu me reencontre comigo
em qualquer curva do crepúsculo
para o vasto espanto das manhãs
que terei deixado para trás...

E não posso evitar que seja assim:
as estradas levando a memória
do quanto eu ando de rosas
nas veredas do meu jardim...


Afonso Estebanez

9 de ago. de 2009

CONFISSÃO DE PAI PARA FILHO



Filho, abro a janela para o amanhã
e não há nisso um vestígio de esperança.

Aceito a imposição de um novo dia
enquanto aguardo a hora do pão fresco.

Vivo intensamente o nada de em seguida
como um centauro ultrapassando o mito.

O que faço não marca o acontecimento,
senão o fechamento nulíparolunar
das portas dos dias das horas do tempo.

Sento-me à mesa e repito com a fome
o golpe traiçoeiro da abastança.

Filho, abro o jornal e devoro uma notícia
que custou um sangue anônimo qualquer.

Eu não quero ser cúmplice do mundo.
Vou ao trabalho ou não vou,
ponho a gravata ou não ponho.

Afinal eu sou o que não muda o curso
de nada segundo a minha preferência.

Qualquer alternativa é uma imposição
do agora ilhado no tempo.

O passado foi e o futuro é na cozinha
onde a carne está sendo retalhada...

Enquanto isso, $uborno com produtos
importados a viciada alfândega do coração,
malgrado os impostos escorchantes
devidos à amável consciência...


A. Estebanez

DO PARNASO PARA MEU PAI



Ah, saudade daquele tempo se envelheço
como a cadeira de balanço ali esquecida
por meu pai com o qual ainda me pareço
nesse cismar de amor e sonho pela vida...

Quando menino ouvia com ditoso apreço
histórias que vovó contava envaidecida...
Hoje sei que mudei! Sentindo reconheço
que saudade parece ausência sem partida...

Cadeira de balanço! Ô, exílio de saudade!
Tu guardas no madeiro minha tenra idade
que os da família o rústico perfil se esvai...

Eu lembro o meu avô e a prole reunida
e pressinto embalar-me na cadeira antiga
o vulto complacente de meu velho pai...

Afonso Estebanez
(A Manoel Stael – meu pai – in memoriam)

Sonhos me emprenham...



Sonhos me emprenham...
Meu ventre gesta versos.
Cantares da alma
acalantam o ritmo das rimas,
nota por nota
entrelaçadas em etéreo minueto
trilhado por passos inebriados de amor.
Sonhos me emprenham,
o poema se forma.
Do inferno da invídia,
sombras inquietas
agitam seus desertos...
A tempestade de areia
pensa ofuscar o sol.
Porém,
por maior que me seja a dor,
no meu útero
a semente germina,
o verbo vem à luz.
Em mim, há vida.

- Patrícia Neme -

QUALQUER SOLIDÃO



Qualquer solidão é um limite
da ausência de nós mesmos.
É quando a gente olha para o jardim
e percebe que não é mais primavera.
É quando a gente se mira no espelho
e já não sabe mais quem era.
Isto é qualquer solidão.
Mas a solidão de fato é aquela
que se sente e não se sabe
o que fazer com ela.
É quando se perdeu o senso
a alma e a primavera
e nada mais resta a fazer...
Só o amor pode gritar:
“– Eu preciso de você!”

Afonso Estebanez

NADA ALÉM DO MEU JARDIM



Eu sempre empreendi grandes viagens
para não muito mais além do meu jardim...
Jamais pretendi chegar ao final de qualquer rua,
se o final das ruas sempre chegaram até mim.

Então eu nunca precisei tomar um trem
com uma mala velha abarrotada de saudade.
Até hoje convivo com a paz de minhas rosas,
companheiras de viagem para a liberdade.

Andar pelo jardim é como dar a volta ao mundo
onde vivo replantando beijos nos canteiros
dos parques das cidades que há no fundo
do lago da memória de minha infância...

E eu não posso correr o risco de deixar
de ser criança, como um velho travesseiro
que se rasga com o tempo e o vento
espalhando pela vida tantas penas
e sonhos e segredos e lembranças
adormecidos neste quarto antigo
onde jazem as minhas esperanças...


Julis Calderón

5 de ago. de 2009

'A UM POETA'



Quem é esse que, em versos, minh´alma desperta
e que a faz se perder em mil tramas de amor?
Como pode entender a carência encoberta
e meu sonho mais caro em soneto compor?

Quem me vê tão desnuda e nas rimas me oferta
os anseios perdidos nas brumas da dor?
Quem me sabe encontrar de maneira tão certa...
quando eu não mais ousava venturas supor?

Quem me faz suspirar, quem meu peito acelera,
onde está esse alguém, que me exila na espera...
No desejo, saudade... onde achá-lo, afinal?

Ah!, Poeta... Eu quisera de ti ser a musa,
em teus braços viver para sempre reclusa,
embalada ao cantar de gentil madrigal!

Patrícia Neme

'NOITES'



Em todo entardecer escuto passos,
na estrada que se achega ao meu portão;
embora haja penumbra, vejo os traços
dos andarilhos... Deus! E quantos são!


Na casa, se assenhoram dos espaços,
percorrem cada palmo do meu chão.
Semblantes - de ventura tão escassos,
contemplam-me... E na dor me envolvo, então.


Porque nos olhos meigos dos meus sonhos,
o amor sulcou caminhos tão tristonhos,
onde apenas saudade floresceu!


À noite, em rito insano de agonia,
unidos, sonhos, eu... e a nostalgia...
Ninamos o que nos restou de teu.


- Patricia Neme -

Soneto da Saudade



O céu desperta triste, em tom cinzento,
qual lhe fora penoso um novo dia;
aos poucos, verte, em gotas, seu lamento...
Um pranto ensimesmado, de agonia.

Um rouco trovejar, pesado, lento,
parece suplicar por alforria,
num rogo já exangue, sem alento...
A chuva... O cinza... A dor... A nostalgia...

O céu despertou triste... O céu sou eu,
perdida num sonhar que feneceu,
sou prisioneira à espera de mercê.

Sonhando conquistar a liberdade
desta prisão, que existe na saudade...
Saudade, tanta, tanta... De você!

Patrícia Neme

ESPERANÇA



Esperança... É loucura... Devaneio...
O apogeu que há em minha insanidade
de arrancar de minh'alma todo freio
e, sem bridas, gritar minha saudade.

Esperança é o cantar do meu anseio,
meu rogar, suplicando a eternidade
encontrada em teus braços... No permeio
dos carinhos da nossa liberdade.

Esperança... É o pulsar, atroz, fremente,
é o desejo explodindo, intransigente,
de fundir-se, entregar-se, sem pudor!

É viver e morrer, a cada instante...
É perder-se e encontrar-se... É dor errante...
É o vazio... O luar... É o tom do amor!

- Patricia Neme -

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