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25 de abr. de 2014

CANÇÃO BALDIA


Às vezes tenho saudade
da saudade que não tive
de morar com liberdade
onde livre nunca estive.

Às vezes tanta saudade
não é tanta por um triz:
pois que a tal felicidade
só me quis quase feliz.

Fui quase feliz em tudo
fui e sou sem vanidade
do que serei sobretudo
a despeito da saudade.

Partir foi quase preciso
sumindo na eternidade
não me fora teu sorriso
enganar essa saudade...

Afonso Estebanez

24 de abr. de 2014

EU VOU


Se for preciso reinventar
a vida e me fazer de conta
e retomar a alma já pronta
por onde nada mais restou...
Eu vou!

Se for preciso restaurar
a dor e me doer de novo
no cio ardente e copioso
do mal ausente que ficou...
Eu vou!

Se for preciso reanimar
a luz extinta no crepúsculo
imponderável do minúsculo
grão de areia que se apagou...
Eu vou!

Se for preciso me afogar
no charco por mero martírio
ou por razão ou por delírio
o lírio diga por quem vou...
Eu vou!

Se for preciso reinventar
o amor numa paixão suicida
e reencontrá-la além da vida
na lida que a paixão deixou...
Eu vou!

Afonso Estebanez


[Arte: Bren Parks]

QUEM QUER QUE SEJA...


Quem quer que seja vem vindo
mar adentro ao ventre afora...
Lua cheia num crepúsculo
navegando rumo à aurora...

Quem quer que seja vem vindo
como a flor recém-nascida
na parte reencontrada
de minha parte perdida.

Vem vindo do lado alegre
de meu lado descontente
vivendo do instante eterno
de viver eternamente...

Como canção pressentida
num leve roçar do vento
na superfície das águas
serenas do pensamento.

Qualquer semente cativa
na flor do ventre a pulsar...
Qualquer estrela cadente
nas águas fundas do mar...

Quem quer que seja vem vindo
dos meus instintos secretos
como um anjo reencontrado
no exílio de meus afetos...

Maior que o reino infinito
dos sonhos com que me iludo
quem quer que venha... sem nada...
em mim é dono de tudo...

Afonso Estebanez
(Dedicado ao meu filho Mark R. Estebanez Stael)

Arte :
Isabelle Vavasseur

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