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28 de dez. de 2009

FELIZ ANO NOVO



Ano novo deve ser apenas um novo ano
daquele velho motivo que todos os anos
faz a gente pensar que este ano vai ser
feliz... Mas ainda é o velho tema...

Apenas sensação de permitir que sonhos
mortos enterrem os seus sonhos mortos,
enquanto a gente desperta antigas rosas
das que ainda permanecem adormecidas
nas páginas jamais abertas do jardim...

E nada de brincar de novos sofrimentos.
Ainda há muita amargura que necessita
de um funeral compatível com a liturgia
da cura pelos perdões não concedidos...

Então, depois de removida tanta pedra
desses túmulos todo ano reinventados,
a gente deseja apenas que o ano velho
acompanhe este ano novo no momento
de entrar pelas soleiras do coração...

Sementes de amor numa das mãos
e uma flor despojada dos espinhos
na outra mão...

A. Estebanez

15 de dez. de 2009

REFLEXÃO SOBRE O NATAL



Algo entre nós não quer ser a caça do medo
nem a eterna esperança que o medo desfaz.
Algo entre nós que não é feito de brinquedo
mas da quebra dos pactos de vida sem paz.

Algo entre nós como a ressurreição da rosa
num renascer gentil de auroras encantadas
como algo que retorna à infância venturosa
para tecer os novos sonhos de mãos dadas.

Algo entre nós que nos divide e multiplica,
que nos semeia e colhe com o dom da flor.
Algo em silêncio que não fala, mas explica
a razão da regra sem a exceção do amor!

Afonso Estebanez

NESTE NATAL...



Não deixes de mandar-me rosas
só por causa dos seus espinhos!
Entre as que são mais dolorosas
há intervalos para os carinhos...

Sei que às vezes são espinhosas
as bromélias de meus caminhos!
Mas não me prives de tuas rosas
só por causa dos seus espinhos!

Hoje eu quero rosas vermelhas,
rosas rubras como as centelhas
das chamas da lareira em paz...

Ah, e eu também te envio rosas
dentre tantas as mais formosas
do bem que o teu amor me faz!

Afonso Estebanez
(Natal de 2009)

Porta de Sonhos


Fiz uma porta de sonhos
com duas partes viradas
para as portas do jardim
os dias foram tamanhos
e de todos fiz os sonhos
que vivi dentro de mim...

Naquelas partes viradas
para as rosas do jardim
inventei uma esperança
de viver de quase nada
e minha vida inventada
do nada restou assim...

A alma nua e penitente
com a calma da manhã
e a memória do jardim
no sonho da primavera
convivendo de quimera
as duas partes de mim...


A. Estebanez

PRÓLOGO & EPÍLOGO



Nascer não é ser a verdade.
Nascer é apenas a memória
do epílogo de nossa história
num prólogo de eternidade.

Viver não é não ter morrido.
Viver é apenas um profundo
e efêmero passar no mundo
sem precisar ser percebido.

Morrer não é não viver mais.
Morrer é a solidão da espera
num lugar onde a primavera
não nos acorda nunca mais.

Afonso Estebanez

A CANÇÃO DA ESPERA



Quando deixares meu desavisado coração
não esqueças de deixar a luz da lua acesa.
Deixa a chave da esperança sobre a mesa
do quarto onde dormiu teu último verão.

Não te esqueças das romãs do teu outono
só porque as sombras do inverno te virão
como lembranças de um amor de ocasião
que não conciliava mais o próprio sono.

Talvez eu me adormeça aqui para sonhar
com o outro lado temporão da primavera
onde eu sonhar me seja estar à tua espera
doendo de um retorno de qualquer lugar.

Estarei dividindo com as águas do riacho
uma breve canção de prazer e sofrimento
sobre a vida refeita de pena sem lamento
o coração envolto no seu próprio abraço.

Afonso Estebanez

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