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26 de set. de 2009

RANCORAMOROSAMENTE



Se tiveres que passar
pela porta de minha vida,
não o faças indiferentemente.
Faze-o rancoramorosamente
e deixa-me algo que pareça paz
ou coisa menos ou mais eterna
do que a aurora de um sorriso.
Se for uma hora de despedida
que seja vestida com a ternura
do arco-iris de purpurina
do colo de uma flor.

Deixa-me alguma coisa
como lembrança de partida.
Se possível, deixa-me o amor
martirizado pelo espinho
da extrema felicidade
com que (não mintas)
sempre sonhei.

Pelo tamanho da minha dor
talvez tu sintas o tamanho
do amor com que te amei...

Afonso Estebanez

23 de set. de 2009

SEM CONTRADITA




Navegar em liberdade
é ir como não se sabe
onde o ímpeto quiser.

O corpo viaja na cama
e o amor toma carona
se no coração couber.

Caminhar no infinitivo
é não ir se for preciso
não ficar onde puder.

Decidir com liberdade
é doer-se de saudade
da ferida que se quer.


Afonso Estebanez

DA ESPERA DESESPERADA



Penso em deixar o coração aberto
para quando tu vieres me buscar.
Nada em meu peito ficará deserto
enquanto o coração puder cantar.

Meu pássaro cantor virá por certo
como o vento cantando no pomar
anunciando no sonho já desperto
o dia certo em que tu irás chegar.

Enquanto tu és apenas esperança
eu vivo de saudade da lembrança
de morrer do desígnio de sonhar:

que teu amor é doce destempero
de meu amor de paz e desespero
do que morri de tanto te esperar.

Afonso Estebanez

ALLEGRO MA NON TROPPO



Fica a paz de um canto triste
dos riachos que vão embora,
vem a tarde e o canto insiste
nos meus ouvidos de aurora.

Resta uma chama encostada
numa sombra sem memória,
fica a noite e um quase nada
do que fora a minha história.

Não sou mais aquela infância
debruçada em teus terraços.
Vais!... E deixas a Esperança
desmaiada nos meus braços.

O homem nasce e vira glória
quando é pedra e vira a flor:
Deus então mais comemora
quando é barro e vira amor.

Afonso Estebanez

21 de set. de 2009

Feliz Ano 5.770 !!!



Nossas sinceras homenagens a todo povo judeu, Feliz Ano 5.770,
שתהיה לך שנה מתוקה נפלאה ומלאה בדברים טובים

שנה טובה

17 de set. de 2009

Vício


(Photography by Rita Hayworth)

11 de set. de 2009

AVISO



Não demoro, favor aguardar...
Necessidade extrema de saber
onde minha alma está.

Não haverá tempo de sentir
saudade, pois devo voltar pouco
tempo depois que terminar
a eternidade...

Então, eu não estou aflito.
Estou só de coração sentado
na pedra bruta de minha vida
onde jaz calada – no meu grito
cúbico de súbito abafado – a alma
sem liberdade de ficar perdida.

Rogo não interromper a pressa
nem irritar a paz do meu conflito.
Quem me encontrar primeiro,
devolva-me com toda a urgência:
minha alma vai necessitar do amor
que dê conforto ao meu espírito...

Não demoro, favor aguardar...
Necessidade extrema de saber
onde todos um dia vão perder
a irrecuperável oportunidade
de se reencontrar!

Julis Calderón

INICIAÇÃO EPÓDICA



Não fixarás raízes
em terras ocupadas pelos sonhos
que se perderam da esperança de sonhar:
sonhos perdidos são lembranças mortas
de pássaros banidos da memória
do remoto destino de cantar...

Não tornarás felizes
aqueles a quem impões acreditar
na primavera em que nem tu acreditas
ser sonho estacionado na reinvenção da vida:
a fé traída pode até ser encantada
mas desencanto é razão perdida...

Não curvarás a alma
às grades do cárcere do coração
por onde vazam relâmpagos de claridade:
claridade é a luz da sombra penetrada
como a aurora é a janela da alvorada
e a alma o cárcere da liberdade...


Julis Calderón

DOCE ASFIXIA DE AMOR


(Tela de Alfred Gockel)

Ah, se te houvesse padecer o quanto
do tanto que esse amor desesperado
padeceu-me de enfado e desencanto
como um beijo nos lábios sepultado.

Ah, se me houvesse redimir o pranto
do tanto que te amei sem ter amado
em padecendo em ti morrendo tanto
como o canto de um pássaro calado.

O amor que me asfixia de esperança
também se cala e em ti retine mudo
como sino a tanger sem ressonância.

Ah, não te fora o místico ‘contudo’...
Eu perdoaria o ‘mas’ da intolerância.
E meu amor, sem ‘mas’, seria tudo!


Afonso Estebanez
(Dedicado a Maria Magali de Oliveira
– fiel companheira de jornada)

4 de set. de 2009

A Volta



Como é difícil retornos!
De tudo aonde vamos,
voltar é transtorno,
estranha-se no caminhar
o peso de uma saudade

Bifurcamos em dúvidas.
erramos o alvo,
acertamos as palavras
que simplesmente não se escuta

Na ascensão ou no declínio da vida,
o voltar é a fúria de vento errante
fustigando lembranças de quem fica,
é tocar um rosto sem voz,
é prender-se na própria liberdade


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 03/09/09
Código do Texto: T1789722

3 de set. de 2009

PRIMEIRA ROSA DO ORIENTE



Há milênios construo entre ternuras
uma estrada de rosas que inauguras
em cada amanhecer de minha vida...

Assim, então, jamais sequei deserto
eis do teu sonho nunca me desperto
a não te ver ausente e adormecida...

Do Oriente ao Ocidente teu perfume
foi sempre a via etérea afeita e afim:
ao teu destino de ser meu queixume
em meus destinos de ser teu jardim.

Jardim da aurora que me fez a lume
lume da rosa de teu ventre em mim:
Rosa do Oriente que o amor resume
no amor das rosas com amor assim!

Afonso Estebanez

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