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29 de set. de 2013

PELAS MULHERES ANÔNIMAS


Rogo hoje a Deus pelas mulheres esquecidas
que sempre foram ‘caso’ e nunca foram tema:
mulheres sem o amor das musas pertencidas
sem o nome lembrado ao menos num poema.

E penso nas mulheres nunca compreendidas
as que sofrem sozinhas porque sentem pena
das mulheres que choram porque suas vidas
são extremos entre o prazer e a dor suprema.

E Deus se apraza das mulheres sem história
que desistem do sonho sem deixar memória
ou vivem de ilusões dos sonhos já passados.

Rogo de Deus o amor de dias complacentes
eis porque todas as mulheres são nascentes
dos milagres de amor que foram realizados!

Afonso Estebanez

3 de set. de 2013

‘Rosas de Sarom’ por quê?

‘Sarom’, que em hebraico (shãrôn) significa ‘planície’, referindo-se, antigamente, à maior parte da região costeira semidesértica situada ao norte da Palestina, antes densamente coberta de carvalhos é, hoje, principalmente ao sul, um dos mais ricos distritos agrícolas de Israel, coberto de plantações de bosques e pomares verdejantes destinados ao cultivo de flores e frutas cítricas, em que predominam os densos laranjais. No passado, ao norte, Sarom era uma região pantanosa com esparsos vales por onde escoavam pequenos riachos entre vegetações rasteiras e dunas de areias avermelhadas do deserto, formando um grande cinturão de terras inapropriadas à povoação. A leste da planície, nos sopés das colinas samaritanas, situava-se Socó, centro distrital sob o domínio de Salomão e antiga sede dos reis vassalos derrotados por Josué. Ao sul, entre Lode e Ono, situava-se o ‘Vale dos Artífices’, para onde acorriam os hebreus exilados que regressavam do cativeiro na Babilônia. Segundo a tradição, cobria o vale o ‘esplendor’ da densa vegetação que servia de pastagens aos rebanhos do rei Davi. Entendo pois – sem divagações místicas – que a ‘Rosa de Sarom’ referida por Salomão em seus ‘Cantares’ (2:1-3) era uma figura de linguagem que o sábio poeta do antigo testamento usava para comparar a formosura de sua mulher amada com o esplendor jacente da região sul de Sarom, até porque, a despeito da beleza dos ‘pastos verdejantes’ (alfombras) a que Davi se referia no Saltério (Sl 23), as únicas flores de coloração avermelhada (a cor da sensualidade) que abundavam sobre aqueles verdes prados de vegetação rasteira eram as anêmonas, os botões-de-ouro, as tulipas e as papoulas. As ‘rosas-de-sarom’ não são, do ponto de vista da botânica, as ‘Rosas de Sarom’ da lira de Salomão. Com meu canto, pois, eu celebro as ‘Rosas de Sarom’ – o mistério do amor encarnado em todas as flores que, como as rosas, constituem o símbolo nuclear do instinto humano mais sublime, por acaso sobrevivente em nossos corações transformados em desertos inapropriados ao cultivo do supremo dom do amor. Assim são minhas ‘Rosas de Sarom’, premonições poéticas da possibilidade de amor e justiça afetiva entre os espinheiros, as urzes e as sarças atrofiadas de nosso coração deserto...

 Afonso Estebanez Stael

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