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27 de mar. de 2014

''DESENCONTRO''


Foi do esperado
que o ter perdido
me fez ter sido
desesperado.

O ter perdido
foi de viver
do haver morrido...

O ter vivido
foi de morrer
da haver sonhado.

Foi do encontrado
que o ter vivido
me fez ter sido
desencontrado... 





Afonso Estebanez

“BEIJÍSSIMOS”


Por tudo o que me deste
por tudo o que não deste
a minha gratidão
em beijos de perdão...

Por tudo o que te dei
por tudo o que não dei
a tua gratidão
em beijos de perdão...

Beijíssimos
dulcíssimos
uníssonos
no coração...

Afonso Estebanez

[Fotografia de Henri Cartier Bresson]

ESCRITO NO CÉU


ROMARIA DE ESPERANÇA



Sonhos são pássaros que emigram
entre mitos de esperas e liberdade
numa romaria infinita ao encontro
marcado da memória despertada...
... para o cumprimento do instinto
de não necessitar nunca de nada...

Eles dormem acordados como faroleiros
que sabem pela velha cartilha das estrelas
a hora de desancorar do céu seu novo dia
já despertado na restinga da alvorada.

Sonhos às vezes são notícias postadas pela brisa
que desperta com as mãos aquecidas de ternura.
Às vezes são regatos chorando sem sofrimento,
pois não há dor quando a espera sempre alcança.

Mas há sensações de eternidade onde nenhuma
pétala desfolha de sua flor sem que o consinta
o vento passageiro dos arrulhos da esperança.

Não há presságios nem maus pressentimentos
onde os sonhos são pássaros
que emigram na lembrança...

Afonso Estebanez

DEUS GUARDA MINHA CANÇÃO

Eu existo porque canto.
Nada sei, senão cantar...
Encanto por desencanto
ou canto para encantar.

Tenho a alma das violas
nas danças de desfastio
e beijos de castanholas
nas horas de meu estio...

É acalanto quando calo
como flauta sussurrada
no canto mudo do galo
que perdeu a alvorada...

É mudez do vasto espanto
de ver tanto amanhecer...
Não é mágoa nem é pranto
mas o encanto de nascer.

Eu trago memórias fartas
das almas dos bandolins
das guitarras e das harpas
dos corais dos querubins...

Não é magia nem fado
o louvor que me conduz
pelas veredas do prado
dos rebanhos de Jesus...

Afonso Estebanez
(Obra inédita dedicada á Pra Zenet Garcia Pereira
– que durante esse meu primeiro ano de literatura
virtual tem sido a guardiã desta canção de louvor)

'NA BEIRADA DO CAIS'


Embarcado o poema,
o mar diz ‘nunca mais’...
Solto ou não as amarras
toco ou não meus navios
para longe do cais...

Desembarco o poema,
o mar cala os meus ais...
Assim deixo a saudade
rebocar meus navios
para perto do cais...

Feliz é a hora desmarcada
de pena da dor embarcada
no adeus da beira do cais!

Afonso Estebanez
(Dedicado ao notável poeta fluminense
Rodrigo Octávio Pereira de Andrade –
Cônsul de Poetas del Mundo para Cabo Frio/RJ
e Membro da Academia Cabista de Letras,
Artes e Ciências de Arraial do Cabo-RJ)

O LADO AMENO DA SOLIDÃO


Naquele tempo me encantava a lua
que era o portal do céu no coração
em festa para entrar tua alma nua!
Mas até hoje o encanto me insinua
que era o amor na minha solidão...

Naquele tempo eu concebia o lado
mais eterno do amor... Era a ilusão
tecendo o meu destino inacabado!
Mas de tanto me tenho acreditado
que era o amor na minha solidão...

Era a última curva de um caminho
entre sombras escassas pelo chão
da vida que me fez andar sozinho!
Mas um anjo até hoje diz baixinho
que era o amor na minha solidão...

Naquele tempo me exaltava o mar
de me ouvir marulhar sua canção!
Era como esse encanto de sonhar,
um desencanto que me faz pensar
que era o amor na minha solidão...



Arte: Dorina Costras]

Despedida...


Perdi meus rastros...
foram cobertos pelas areias do seu espaço.
Nas áridas paisagens do seu desapego
sofri a inanição dos meus desejos
e a perdição de seus abraços.

Era para ser imenso...
o amor que via em seus afagos.
Porém, nas dunas de seus beijos,
colhi o veneno do desprezo
sendo presa de seus laços.

Se pede amor por inteiro...
devia entregar-se por completo.
Do mar alto da desilusão,
com tristeza me despeço
o coração já aos pedaços.

Entre nós e o horizonte...
fica o silêncio do amor dos pássaros.
Que perdure tão curta a eternidade,
seja eterno o instante desse amor
restado de tão breves traços...

Juleni Andrade & Afonso Estebanez

MEU REBANHO DE SAUDADE


Que saudade dos sonhos que perdi
do amanhecer do tempo de sonhar
ao termo da paixão que eu não vivi
por ter adiado o tempo para amar.

Que saudade de quando eu padeci
feliz de amargurar-me sem chorar
das feridas do amor que não senti
fingindo que paixão pode esperar.

Devo viver o lado bom do inferno,
talvez o amor não seja tão eterno
como a luz que seduz a claridade.

Eis ninguém pode separar de mim
as memórias que planto no jardim
solar de meu rebanho de saudade.

Afonso Estebanez

2 de mar. de 2014

HENDECASSILABITÁLICO


De amor meus crepúsculos tintos de vinho
Torrente de escombros de eu n’eles chorar
Que sofra eu de n’eles andar sem caminho
Ou moyr'eu, Senhor, por me d'eles deixar.

Meu canto noturno é de algum passarinho
Que a aurora me traz se a saudade chegar
Com rosas despidas de dor ou de espinho
Ou moyr'eu, Senhor, por vos n'elas amar.

Em nome do amor hei vencido meu vício
Purgado em esfera onde o meu sacrifício
Foi moyr'eu, Senhor, por me d'eles remir.

Não tenho um jazigo de sonhos passados
Só portas de entrada de amores deixados
Pois moyr'eu, Senhor, se me d'eles partir.

Afonso Estebanez Stael
(Em poema dedicado ao meu V:. Ir:. e notável
advogado gaúcho Pedro Danilo, de passagem
pela verdejante Porto Alegre/RS,
em memorável primavera de 2013)

“HENDECASSILABITÁLICO”



Trata-se de produção ao estilo contraposto às formas rígidas do soneto petrarqueano com versos de onze sílabas métricas, único verso designado por ‘Arte Maior’ usado pelos poetas do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Segundo Jacinto Prado Coelho, em seu Dicionário de Literatura, "No Cancioneiro Geral de Resende, onde triunfa a redondilha, só se encontra um verso de arte maior. Trata-se de um ritmo especial, cuja voga se limitou ao século XV, mas que ainda se encontra em Gil Vicente (séculos XVI e XVII), composto de versos de dez e onze sílabas". Sua designação, na prática, incluía todos os versos com mais de sete sílabas. Mas os poetas do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende utilizaram exclusivamente, como verso de arte maior, o de onze sílabas, pelo que esta designação acabou por se referir exclusivamente ao verso hendecassilábico, que se veio depois a tornar raro na poesia portuguesa..." Com o triunfo renascentista do verso decassílabo italiano, usado abusivamente por Francesco Petrarca (século XIV) e moderadamente por Camões (século XVII), o verso de onze sílabas caiu em desuso. O exemplo contestatório que estamos oferecendo como mote rítmico flexível do último verso dos quartetos e tercetos do soneto “HENDECASSILABITÁLICO”: – "E moyr'eu, Senhor, por me d'eles partir" – constitui uma glosa em português arcaico em contraposição ao latim ‘volgare’ ao engessamento do soneto praticado pelo ‘Senhor dos Sonetos’ (Petrarca) tipo exportação. O hendecassilabitálico que lançamos é um cântico lírico (o que era inadmissível no soneto decassílabo da escola petrarqueana) composto supostamente por um cavaleiro templário sobrevivente dos campos de batalha (os campos de batalha da vida) que regressa suplicando o direito à paz e à liberdade, em nome do bem comum maior atribuível ao ser humano: o amor. No soneto “hendecassilabitálico” que compus, dei nítida preferência a que a cadência, a tonicidade interna e a sonoridade recaíssem sobre as 2ª, 5ª, 8ª e 11ª sílabas de cada verso. Por motivos óbvios, homenageei com a composição em comento o meu V:. Ir:. e notável advogado gaúcho Pedro Danilo, de passagem pela verdejante Porto Alegre/RS, em memorável primavera de 2013.

Afonso Estebanez Stael

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