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29 de mai. de 2009

MOVIMENTO DA POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA NO MUNDO VIRTUAL


Por *Afonso Estebanez

Substancialmente, tem havido pouca alteração culturalmente revolucionária no atual ambiente da chamada poesia contemporânea no Brasil, a despeito do advento do privilégio da comunicação digital, esse democrático acerto de contas entre a ciência tecnológica e a história da comunicação humana.

Os grandes repórteres da literatura universal do passado também teriam usado o mesmo sistema tecnológico “moderno” se pudessem voltar ao cenário contemporâneo. E nós, os das artes, ciências e letras da atual geração, estamos inseridos neste contexto em decorrência, apenas, do fato histórico de estarmos vivos no momento do milagre da tecnologia. Mas historicamente a literatura brasileira continua na vertente do sincretismo cultural, enquanto fruto da combinação de concepções artísticas de tendências globais diversas, numa fusão de elementos às vezes antagônicos, mas culturalmente reverentes à herança do passado histórico da literatura estereotipada do “pré” e pós-modernismo. A atual poesia brasileira é produto deste fenômeno cultural, fracionada pelos diversos movimentos regionais desarticulados pela sedução do síndrome da contradição humana.

Do ponto de vista da velocidade do estreitamento tecnológico no campo da comunicação, a produção artística brasileira continua transmitindo ecos sintonizados com a tradição visual do século passado, a despeito dos “futurismos”, dos “cubismos”, dos “concretismos”, das “vanguardas”, das “marginalidades”, das “alternatividades”, dos “modismos” que, como produto final, não representam renovação culturalmente substancial das chamadas escolas tradicionais – já superadas – dos “ismos” que, nada obstante as suas idiossincrasias e contradições próprias da arte experimentalista no país, antecederam, com registros – histórico e social – igualmente contemporâneos, aos atuais movimentos artísticos brasileiros, em particular os literários.
Entendo, assim, que os avanços proporcionados pelo mundo digital na esfera da linguagem ou da técnica de qualquer produção artística, pluralista, anarquista, marginal, contestatória ou reacionária, na verdade não trouxeram transformações fundamentais no contexto da arte contemporânea culturalmente obediente aos antigos cânones da arte neoclássica, levando-se em consideração que sempre haverá – face ao conceito de atemporalidade – uma tendência irreversível da arte contemporânea para a controvérsia cultural fundada nas contradições humanas modernamente expressas pelos inúmeros recursos e imagens da lingüística e da metalingüística.

Continua intransponível, portanto, a magia da expressão literária tradicional que temos apregoado aqui e alhures, assente na beleza da arte da comunicação humana através da linguagem materializada segundo a combinação dos sons e tons dos fonemas, palavras ou expressões, escritos ou emitidos oralmente para se referir à realidade ou à ficção inerentes aos mundos objetivo ou subjetivo, com habilidade, talento, equilíbrio, beleza e harmonia.
Não há necessidade de nenhum derrame de estudos analíticos, didáticos, pedagógicos ou metodológicos da literatura contemporânea, porquanto a lingüística convencional vem sendo aos poucos superada pela compreensão da ciência da metalingüística, que no conceito dos estudiosos do século passado (Bakhtin na poética de Dostoievski) descreve os aspectos não verbais da comunicação que englobam o tom de voz, o ritmo da fala, as pontuações e outras características que vão além da palavra falada, a nos lembrar que extraímos dela o significado tanto dos termos usados como da forma com que eles são expressos, evidenciando aqueles aspectos da vida do discurso que ultrapassam os limites da lingüística dogmática.

“Alguns teóricos são radicais ao dizer que não existe poema sem o chamado ritmo. Seria o ritmo a base fundamental do poema. A metrificação é uma decorrência do ritmo. Aliás, alguns defendem que deve haver algum tipo de métrica mesmo em versos livres. Já outros, dizem que o tema é a coisa mais importante a se considerar num texto que se pretende ser um poema. James Joyce privilegiou o estilo e a linguagem. Jorge Luis Borges apostava nas metáforas. Alguns puristas defendem a forma – as formas fixas – como base segura para se escrever um poema. Penso que estes são alguns dos elementos com os quais o poeta deve lidar. O mais importante talvez seja a possibilidade de alguém conseguir no meio disso tudo encontrar sua voz pessoal, seu estilo único (...)”, “numa escrita peculiar e autoral” (...). “Buscai primeiro uma poética pessoal e todo o restante vos será acrescentado!”.

O texto em destaque refere-se a conceitos emitidos por Tchello d’Barros, considerado um dos artistas contemporâneos – escritor, artista visual e viajante – mais completos do país, o mágico dos poemas curtos, juntamente com o poeta gaúcho Ademir Antônio Bacca, em entrevista concedida ao conhecido editor do site cultural “Alma de Poeta”, Luiz Fernando Prôa – notável escritor e poeta carioca – durante o XVI Congresso Brasileiro de Poesia, transcorrido no palco cultural de Bento Gonçalves/RS (2008), evento conhecido como um dos maiores formadores de opinião sobre literatura brasileira contemporânea, anualmente promovido pelo festejado poeta gaúcho mencionado, escritor, contista, jornalista e promotor cultural Ademir Antonio Bacca, Presidente do Proyecto Cultural Sur Internacional e Embaixador da Paz no Brasil de “Poetas del Mundo”, conhecido Movimento Internacional pela Paz, com representação e voz em quase todas as nações do Planeta.

Forçoso concluir, portanto, que a poesia contemporânea no Brasil, em nome da velocidade imposta pela tecnologia virtual, repousa num confuso estado de flerte com os movimentos iconoclásticos dos anos 20, porém ao avesso, como aparente rejeição ao receituário cartesiano da época: sabe muito bem o que quer, sem que precise saber do que não quer. Talvez por isso os estardalhaços dos vanguardistas de hoje são bem mais festivos do que aqueles mais inocentes dos anos 60, em que os modernismos se confundiam com a variação de facções poéticas regionais.

Mas no mundo virtual está impondo características modernas indeléveis.
Por fim, como a proclamação da poesia “neo-parnasiana” consagrada constitui ainda o fundamento da cartilha da cultura poética no país, extrai-se que não há divergências entre as cores artísticas desse contagiante arco-íris de correntes literárias. Há apenas desencontros...

O poeta Claudio Willer (1991) teria sintetizado a poesia contemporânea no mesmo patamar de sua época: “Infelizmente a negação das vanguardas em seu aspecto mais enfático e autoritário tem servido para justificar o academicismo, a volta ao passado, ou então, sub-repticiamente, a escolha da tendência certa da vanguarda, disfarçada de contemporaneidade ou até modernidade”. E isto é como repetir a dança de uma valsa vienense no último baile da ilha fiscal, excitado pelo perfume glamouroso da corte neo-parnasiana...


*AFONSO ESTEBANEZ STAEL, natural de Cantagalo-RJ onde nasceu em 30 de outubro de 1943, é advogado, escritor, cronista, poeta, jornalista, crítico literário e verbete da “Enciclopédia de Literatura Brasileira” e do “Dicionário de Poetas Contemporâneos”, editados pelo Ministério da Educação e Cultura. Cursou as Faculdades de Direito e de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal Fluminense. Foi premiado nos 1º, 2º e 3º Torneios Nacionais de Poesia Falada (1968/69/70) promovidos pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.
Foi vencedor do Primeiro Concurso Estadual de Poesia do Advogado Fluminense (87).Tem obras publicadas em livros, jornais e revistas editados no país. Em 2007 venceu o I Concurso de Literatura do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (prosa e verso). Faz parte do movimento literário do "Alma de Poeta” (Rio de Janeiro). É membro da Academia Brasileira de Poesia e recentemente recebeu a Comenda de Cônsul do Movimento Mundial pela Paz de "Poetas del Mundo" para representar sua terra natal - Cantagalo/RJ.

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