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26 de mar. de 2009

AUTO DAS BARCAS (CANTO I)


Quando eu era pequenino
(morávamos lá pelas bandas de Minas)
um carpinteiro amigo de meu pai
levou-me de presente uma miniatura da Cantareira
que trafegava pela Baía da Guanabara
entre Rio e Nictheróy...

Aquele homem falava da exultação de atravessar o mar
como meu pai falava da paixão de cavalgar pelas campinas...
E contava coisas e coisas sobre sua última viagem
como um velho marinheiro desfiando recordações
das mulheres de cais que conhecera em Barcelona...
E dizia que pessoas vinham de países longínquos
para visitar a cidade e o mar que havia nela...

Eu então deitava minha barca no lago do jardim
e me lembrava das aventuras de Marcopolo
que à noite minha irmã contava à luz da lamparina
como nas histórias do arco-da-velha...

Hoje sei que o destino de crescer é de ter sido apenas,
e nada mais. Estou aqui, velho marinheiro ao pôr-do-sol,
igual a todos os mineradores de poemas,
fossilizados pela crença do mineiro de que o mar é seu...

A. Estebanez

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