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17 de jun. de 2011

Poema de Pedra


Eu pedra bruta do tempo
que me passou esquecido
no inventário do momento
de viver de eu ter morrido
percorro o longo decurso
de todo o tempo perdido.

Eu profetas de gomorras
ruir de torres tombadas
sodomas de meus sentidos
de extintas almas salgadas
artesão de antigos sonhos
de mãos rudes algemadas.

Eu perdido se me encontro
sensível ao que não sente
descaminho de um futuro
de algum passado presente
vou pedra fingindo a carne
e sangue fingindo a gente.

Eu castelos de crepúsculos
naus sombrias sobre vagas
eu mortalha dos moluscos
de esperanças naufragadas
faz-se em mar a minha vida
das marés que são choradas.

Eu templo de deuses mortos
becos tortos sem calçadas
vendo o mundo das janelas
que o amor deixou fechadas
sou um elo entre essas vidas
que se atraem separadas.

Hoje sou pastor de rios
sentinela das colinas
mirante das fortalezas
nas ameias das neblinas...
É por mim que à noite
os ventos vêm chorar
sobre as ruínas.

A. Estebanez

Poema Védico


A luz vem do olhar de uma fera acuada
que aguça os sentidos da carne que assanha...
É como galgar dentro d’alma enjaulada
a encosta escarpada de rude montanha.

Os lobos vorazes dos vãos pensamentos
são rasgos de raios num céu sem lampejos...
Mil potros selvagens no dorso dos ventos
Tangidos por cães de sangrentos desejos.

Os cumes dos montes são gumes da mente
que traçam no céu azimutes perdidos...
Faróis que se acendem nos vãos da torrente
que invade a planície sem luz dos sentidos.

Voeja entre nuvens de braços abertos
conquista o infinito, degrau por degrau...
Transforma as areias de imensos desertos
num lago escorrendo entre sons de cristal.

É como um cometa luzente no espaço
que a luz abrangente de um raio devora...
O ser se dilui no infinito regaço
e Deus se revela de súbita aurora!

A. Estebanez

'CONFISSÃO'


Feliz de mim quando tu vens
ao confessionário do meu coração
falar do amor que ainda me tens
onde perdestes tua própria alma
num labirinto de solidão...

Louvores ao amor que te absolve
e te devolve a paz e a luz e a calma
sempre que lhe dás a oportunidade
de reencontrar a tua alma...

Bem-aventuradas são as almas
que confessam seu amor perdido
do qual nunca se perderam...

É preciso viver para perder-se
o quanto é necessário perder-se
para se encontrar na solidão...

Bem-aventuradas as nossas almas
separadas... Eis porque juntas,
jamais se perderão...

Afonso Estebanez

1 de jun. de 2011

AMANHÃ DE MANHÃ...


Eu te darei meu infinito
em que deixes no meu grito
uma cantiga tão pura
que pareça mais ternura
do que o teu amor aflito...

E eu te desejo corpo aberto
como o céu sobre o deserto
de meu sonho mais contrito...

Como se fosse uma agonia
ou uma simples sinfonia
de teu amor dormindo
em mim...

Como uma rosa enlunada
da minha parte plantada
na beira do teu
jardim...

Afonso Estebanez

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