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26 de mar. de 2009

AUTO DAS BARCAS (CANTO VIII)


Se o mar não estiver aqui amanhã de manhã...
(Ah, de saudade minha irmã não morreria
se o mar secasse amanhã!), onde estará?

Certamente estará no megalointestino da metrópole
tragado à noite pela fúria dos esgotos revoltosos.
Talvez se estabeleça uma questão internacional
porque os canais de esgoto terão sugado uma overdose
de coca-cola e um barco inofensivo de salada à perestroika
e um certo carregamento de papéis da dívida externa...
He-man porém virá sem ser chamado
e a cidade terá que vomitar o mar e as canoas,
a frota de coca-gate e as gaivotas embriagadas,
plataformas entulhos maresia de alcatrão,
as enchovas e as trutas marinhas do tesouro nacional,
o tubarão aturdido e um marinheiro naufragado,
os barcos dos pescadores e o leite de Shernobyl,
a leptospirose e os monstros de estimação...
As estrelas do mar de óleo dieesel
e mais outras porcarias que fazem mal à digestão...

Navegar é preciso...
Assim como viver do tédio
que há na alegria sem remédio
de ser feliz por profissão!...


Afonso Estebanez

Um comentário:

  1. Feliz por profissão, não havia pensado sobre isso.
    Reflito sobre isso.

    Lindo espaço, gostei e voltarei.

    Um beijo Lilás!

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