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8 de jan. de 2014

NÃO ACORDEM MINHA MORTE


Não acordem minha morte
que descansa adormecida...
E que à alma não importe
se a morte é sono da vida.

Minha carne não acordem
e nem do sangue exaurido
o fluído que em desordem
deixa-me o corpo esvaído.

Dêem pó para minh’alma
que de mais nada precisa
senão do canto da calma
que de amor não agoniza.

Não acordem minha vida
que está só desacordada
e que a alma amortecida
só me acorde despertada.

E da morte não desperte
a minh’alma adormecida
e da vida ainda me reste
o outro lado desta vida...

Afonso Estebanez

SEGREDOS DA INSÔNIA


I

Até que a noite faça agonizar-me o sono
meu coração ainda insiste em pressentir
ruídos de batidas nos porões da insônia...
Mas sei que me é possível resistir!

São pesadelos reencarnados do passado
morto... Fantasmas de navios ancorados
nos cais abandonados das ilhas de mim...
E sei que me é possível resistir!

Até que em morte acorde e eu adormeça
ainda sinto adormecidas sensações de ti...
De um lugar assombrado em minha vida
de onde sei que é possível resistir!

Ô, mulher-menina que perdi na infância
canção de bem-querer do quanto padeci...
Uma certa saudade vadia sem distância
e ainda assim me é possível resistir!

Afonso Estebanez Stael

SEGREDOS DA INSÔNIA


II

Até que essa lembrança enfim me esqueça
há noites de desterro do amor que não vivi.
Pode ser exaustão de luz na lâmpada acesa...
E ainda assim me é possível resistir!

Contorno a direção da porta, transtornado.
Pode ser um carteiro noturno e devo abrir.
Pode ser o domingo retornando ao sábado...
E ainda sei que me é possível resistir!

Talvez um corpo astral de aeronauta ainda
meu duplo que retorna antes de prosseguir
na fé dos missionários da esperança finda...
E ainda me é possível resistir!

Porém vou levantar-me lentamente agora
e reescrever os últimos versos que escrevi.
Depois vou caminhar devagar até a porta...
Pois não é mais possível resistir!

Afonso Estebanez Stael

SEGREDOS DA INSÔNIA



III

Permitir que me banhe a claridade do luar
como a alvorada inaugural o ultimo porvir.
Por trás do reposteiro um anjo me convida
e não é mais possível resistir!

Guardo as fotografias dos parentes mortos.
Depois conforto meus sentidos sem sentir...
Os versos falam já transcritos na memória
que é quase impossível resistir!

E antes que o coração em cânticos pereça
devo afinal abrir a porta, morrer e desistir...
Como a hora desiste do relógio sonolento
sem tempo agora para resistir!

Eu me absolvo de afogar-me em lágrimas
se é para sempre que esta noite vou partir...
Vou perder-me entre a linha do horizonte
e viver e sonhar e morrer sem resistir!

Como vivem os lírios dos campos...
Como sonham os pássaros da paz...
Como ama o amor os desencantos...
E morrem os heróis sem desistir...

Afonso Estebanez Stael

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