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26 de mar. de 2009

AUTO DAS BARCAS (CANTO IV)


É quase comiseração o amor que sinto
pelos raios de sol agonizantes nas esteiras de óleo dieesel
como se fossem borboletas marinhas de coral
debatendo-se numa rede de espinhais carnívoros...

Mas não tenho nenhuma sensação
por causa desses homens que navegam olhando para o mar
com sentimento de autocomiseração...
Estão sempre fadados a chegar depois dos fatos
como se não houvesse pressa alguma de fazer
a abolição da escravatura proletária
escrita com sangue no coro dos operários.
ou daqueles que fazem da viagem para o lar
uma causa sem motivo de celebração antecipada
porque nem sabem se o dia de amanhã virá...

Zumbis de encruza dos palmares suburbanos
lambendo um puro feeling de fim de semana
que cantarolam ao ritmo dos pés dos punks
dos trashers e dos psycho-rokabilles
uma sunshine of your love qualquer
no show business da proa.

Mesmo assim e apesar
dessa irremediável sensação
de ressaca proletariogênica,
sou quase-andróide da interpool capitalista
navegando de Andrômeda a Cassiopéia...


Afonso Estebanez

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