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26 de mar. de 2009

AUTO DAS BARCAS (CANTO II)


A Cantareira não existe mais.
E nunca mais ouvi falar de alguém
que se rejubilasse tanto com atravessar o mar.
Ninguém sabe mais nada sobre a última viagem.
Meu pai nunca mais cavalgará pelas campinas
e minha irmã morreu como ave de arribação
na direção do mar que havia nas histórias do arco-da-velha.
Estar aqui é como ser nativo de lugar nenhum,
as pessoas não mais chegam de nenhum lugar
e o mar que havia na cidade não está mais nela...

A travessia agora não é mais de navegar
como no lago do jardim da minha casa
onde apertei a mão de mais príncipes do que Marcopolo.
Onde venci tormentas que Ulisses não logrou vencer.
Onde dormi no colo de todas as mulheres do amigo de meu pai.
Onde abordei mais ilhas do que Robinson Crusoé.
Onde morri de mar mais vezes do que minha irmã sonhou morrer...


Afonso Estebanez

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