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30 de jul. de 2013

''REFRAÇÃO''


Cristalina luz de aljôfar
na flor do lótus reluz
como um círio de alva chama...
No mistério de minh’alma
a luz emerge da vida
que tem raízes na lama.

Fragmentos de marfim
via-láctea refletida
no fundo da poça d’água...
Meus olhos cegos da vida
podem ver a luz profunda
que dentro d’alma deságua.

Azuis relampos nas asas
borboleta que transmigra
da lagarta ao firmamento...
Divino sopro da morte
que as asas da luz libertam
no estertor do sofrimento.

Luz de sons noturnos guizos
que há nos risos das crianças
como chuva estilhaçada...
Clarins de vozes etéreas
querubins que vêm nas trevas
e explodem numa alvorada...

 

Afonso Estebanez

29 de jul. de 2013

''DA ESPERA DESESPERADA''



Penso em deixar o coração aberto
para quando tu vieres me buscar.
Nada em meu peito ficará deserto
enquanto o coração puder cantar.

Meu pássaro cantor virá por certo
como o vento cantando no pomar
anunciando no sonho já desperto
o dia certo em que tu irás chegar.

Enquanto tu és apenas esperança
eu vivo de saudade da lembrança
de morrer do desígnio de sonhar:

que teu amor é doce destempero
de meu amor de paz e desespero
do que morri de tanto te esperar.

Afonso Estebanez Stael


[Tela de  Willem Haenraets]

26 de jul. de 2013

''POETAS...''


Uma única andorinha traçando no céu azul
o seu plano de vôo é um acaso da estação.
Feliz do meu inverno que do outono acolhe
rosas raras de verão tiradas da primavera.

E esse vôo de águias é o parto da espera
e o lodo sob as águas dos lírios do charco.
Nos limites do atleta de tudo sou o pouco,
rescaldo de festa, o que me resta é louco.

Digam que meu cantar remoto é um porto
na sombra da mortalha desse antigo cais.
E que o maior poeta é algum poeta morto
que vira só uma andorinha... E nada mais.

Afonso Estebanez

''MEU SER POETA''


Não pensei em ser poeta
mas a vida quis por mim:
planto lágrimas na pedra
e o que é dor vira jardim.

Não tão fácil é ser poeta
e tão fácil mesmo assim:
ser o princípio da guerra
pela paz que vem no fim.

Mas em terras de poeta
toda rosa é a alma afim
e em minha lida secreta
cada rosa é meu jardim.

Vou deixar de ser poeta
para ser meu querubim:
guardar na vida deserta
uma flor dentro de mim.

Afonso Estebanez Stael

21 de jul. de 2013

''UM SONHO ENTRE NÓS''


Põe o sonho onde te ponho
ou deixa que o leve o vento
se não te restar mais sonho
faz sonhar teu pensamento.

Nenhum sonho vai embora
que não possa mais sonhar
como a insônia é a demora
que aguarda o sono voltar.

Como a noite é a memória
do amanhã que vai chegar
nenhum sonho tem a hora
para um sonho descansar.

Põe um sonho em tua vida
e a minha deixa sem nada
mas na estação da partida
não deixa a tua espalhada.

Não é bem que vás agora
com o teu jeito de sonhar
teu sonho quer ir embora
mas o meu não quer ficar...

A. Estebanez

''A ROSA E O TEMPO''


Esta é a mão da minha alma,
mão que planta e colhe flor!
É minh’alma é minha palma
é concha em forma de amor.

Esta é a rosa que traz calma
malgrado o espinho da dor!
É flor que atine sem trauma
para a cruz de um desamor.

Esta é a flor do pensamento
onde o amor chega discreto
como um raio de esperança.

Rosa é um jardim do tempo
em que o meu amor secreto
jaz-me eterno na lembrança.

Afonso Estebanez

''GRAÇA DESMEDIDA''



Contemplo o meu jardim
como se fosse pela última vez...
E me comove o instinto daquela
pequenina flor se abrindo para o céu
como um pedacinho de arco-íris
bebendo no ribeiro da alvorada
a primeira gota de orvalho
da manhã sobre a ravina
derramada.

Procuro entender a minha vida
segundo aquela demonstração
de milagre pelo poder da graça
sobre a simplicidade às vezes
não percebida.

O relógio não faz tempo
mas o tempo se eterniza
nesse milagre de amor:
pode a flor passar no vento
mas fica o aroma da brisa
e o encanto de uma flor.

Desistir de mim – repenso –
por causa de um desamor,
se a pequena flor do campo
Deus jamais abandonou?
Então me visto de encanto
com o manto daquela flor...


Dueto de Sueli Amália (Poetisa das Marés)
& Afonso Estebanez.

11 de jul. de 2013

''DESTINO DE CHEGAR''


Uma flor só se envolve com o vento
uma rosa se envolve sem queixume
não se colhe uma flor por desalento
ou pelo assédio intenso do perfume.

Se queres teu amor refaça o tempo
vê como faz um simples vaga-lume
que gera a luz ao fado do momento
e faz que a noite sua aurora exume.

Deixo-te rosas fartas sem espinhos
esvaziando de mim tantos carinhos
para logo voltar se nem sei quando...

E quando o dia anteceder a aurora
verás assim que nunca fui embora
pois nunca paro de ficar chegando...

A. Estebanez

6 de jul. de 2013

MEU CORAÇÃO AGRADECE


  • Continuo aprendendo,
    com inefável proveito humano,
    as maiores lições da vida: fraternidade,
    esperança, solidariedade e amor sem limites.
    Devo esse aprendizado aos “paladinos do amor”
    de minhas páginas, sem nenhuma exceção, que de meu aniversário ainda se lembram com tamanha generosidade. Hoje me tenho renovado por um batismo de lágrimas de emoção, num dos mais sublimes momentos de minha vida,
    convicto de que
    SÓ O AMOR VALE A PENA...
    Colho de cada mensagem recebida numerosa energia de amor, amizade, carinho, ternura e fé: bênçãos que me solidificam mais o propósito de viver na certeza de que todos vocês me amam com a mesma medida de meu amor por todos vocês.
    Aprendi que
    nesta vida HÁ SENTIMENTOS ETERNOS que
    são atributos do espírito igualmente eterno.
    Meu coração continua agradecido à
    atitude de suas almas em união
    com nossas vidas colocadas
    sob a perene proteção
    de Deus!

    Afonso Estebanez.

POEMA DA PEDRA BRUTA

POEMA DA PEDRA BRUTA

Eu pedra bruta do tempo
que me passou esquecido
no inventário do momento
de viver de eu ter morrido
percorro o longo decurso
de todo o tempo perdido.

Eu profetas de gomorras
ruir de torres tombadas
sodomas de meus sentidos
de extintas almas salgadas
artesão de antigos sonhos
de mãos rudes algemadas.

Eu perdido se me encontro
sensível ao que não sente
descaminho de um futuro
de algum passado presente
vou pedra fingindo a carne
e sangue fingindo a gente.

Eu castelos de crepúsculos
naus sombrias sobre vagas
eu mortalha dos moluscos
de esperanças naufragadas
faz-se em mar a minha vida
das marés que são choradas.

Eu templo de deuses mortos
becos tortos sem calçadas
vendo o mundo das janelas
que o amor deixou fechadas
sou um elo entre essas vidas
que se atraem separadas.

Hoje sou pastor de rios
sentinela das colinas
mirante das fortalezas
nas ameias das neblinas...
É por mim que à noite
os ventos vêm chorar
sobre as ruínas.

Afonso Estebanez

4 de jul. de 2013

''SOBREVIVENTE DO APOCALIPSE''


O poeta é uma pergunta sem resposta
numa resposta sem pergunta.
Não pertence a si mesmo, senão ao enigma
da sobrevivência ao naufrágio da esperança,
balbucio de lucidez na treva sem limites
de que necessita morrer ao menos por amor.
E não consegue – o amor não lhe permite.

É uma contradição do último apocalipse.
Não precisa da velha identidade de sobrevivente.
É o único que já chegou perplexo ao pé da vida
com atraso de milhares de anos-luz, no instante
de felicidade não partilhada da lucidez do absurdo.
Como pássaro na iminência de um vôo inaugural
rumo à demência sublimada pela prodigalidade
dos fragmentos da misericórdia na interpretação
do drama oculto da alma no palco eterno
de uma flor no abismo...

Entre a realidade e o sonho, no limite
máximo da vida do operário em construção
do renascimento prometido. Só o poeta pode
decifrar o enigma da esfinge de si mesmo
como relator de evangelhos desconhecidos...

Julis Calderón
(Heterônimo de Afonso Estebanez)

VERSOS LEVIANOS



Sou o teu rio de mágoas
De lua cheia me inundo
E morro nas águas rasas
De um oceano profundo.

Colho flores numerosas
Da pedra da minha vida
E sei das tolas mimosas
De alguma rosa suicida.

No escombro da poesia
Há ninhos e andorinhas
E o chão da erva esguia
Por onde nua caminhas.

No jardim de sepulturas
Há as juras que nem fiz
Dos afetos e as ternuras
Que me deixaram feliz.

Afonso Estebanez

ALMA PARTIDA


Eu tenho a alma partida
por duendes da loucura
por causa da despedida
entre o amor e a ternura...

Loucura de amor jurado
pela jura não cumprida
do lado compromissado
da ternura prometida...

De súbito foi o instante
em que tudo se perdeu...
Mas era tempo bastante
de viver o que morreu...

E tudo o que era presente
foi tempo tão esquecido
que a ternura impaciente
não viveu o amor perdido...

E assim a alma partida
por duendes da loucura
ser causa da despedida
entre o amor e a ternura...

A. Estebanez

2 de jul. de 2013

''ONDE VIVEM AS CANTIGAS''

Preciso de que me fales
onde guardas o silêncio
o mistério guarda onde
os segredos do relento
e na brisa destes vales
preciso de que me fales
das horas de desalento

e que luz veio do olhar
onde vive o teu silêncio
no segredo da alvorada
da brisa solta no vento
é preciso que me digas
onde vivem as cantigas
já perdidas pelo tempo

será no choro dos rios
nas flautas anoitecidas
nas ameias das garoas
na saudade da partida
é preciso que aconteça
e o amor ainda mereça
retornar à minha vida.

A. Estebanez

''ALLEGRO MA NON TROPPO''

Fica a paz de um canto triste
dos riachos que vão embora,
vem a tarde e o canto insiste
nos meus ouvidos de aurora.

Resta uma chama encostada
numa sombra sem memória,
fica a noite e um quase nada
do que fora a minha história.

Não sou mais aquela infância
debruçada em teus terraços.
Vais!... E deixas a Esperança
desmaiada nos meus braços.

O homem nasce e vira glória
quando é pedra e vira a flor:
Deus então mais comemora
quando é barro e vira amor.

Afonso Estebanez

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